Era uma tarde como outra qualquer. Saí do trabalho na mesma hora de todos os dias. Peguei a criança na escola e me lembrei que precisava ir à cidade comprar umas coisas. A correria era tanta que havia me esquecido de almoçar…Parei e comprei dois pastéis. Um para mim e outra para a pequena.
Sentamos e comemos enquanto a moça moía a cana para a garapa. O suco da cana tava gelado. No ponto! O celular tocou. Era minha mãe pedindo para encontrá-la logo adiante. Pegamos um copo descartável e fomos comendo e bebendo enquanto caminhávamos.
Ao terminamos o lanche a mão tava toda melecada, impossível dirigir com tanta gordura entre os dedos. Procurei um papel ou algo que pudesse amenizar o problema. Não achei nada. Entrei na primeira loja que vi.
Nunca tinha percebido aquele local. Parecia um lugar perdido no tempo. Havia sacos de não sei dizer o que espalhados por todos os cantos. Tipo venda a granel, como isso ainda existisse. As teias de aranha do teto cobriam caravelas penduradas, formando um mar de barcos perdidos. Na parede uma coleção de azeites. Pensei …Que lugar estranho!
– Boa tarde. Posso lavar a mão, por gentileza?, pergunto.
– Aqui atrás tem uma pia. O detergente está sobre ela. Fique à vontade, me responde o rapaz.
Ele era alto, tão bonito e elegante que não combinava com a penumbra do lugar. Parecia fora de contexto. Não que ele estivesse deslocado, ao contrário.
A pequena copa e o banheiro brilhavam de tão limpos. Ao atravessar a porta tudo mudava. Como um portal. Lavei minha mão e a da pequena.
Ao sair não resisti, a coleção de azeites me intrigou.
– É uma coleção?, pergunto. Ou você vende?
– Não, é uma coleção.
– Quantos azeites têm no total? De quantos países diferentes?
– 228, de uns nove países.
– Só nove. Nossa…Parece mais.
– Você aprecia azeite?, me pergunta.
– Seguro o riso e respondo: Eu gosto demais de azeites.
Fui embora. Ele me olhou. Eu o olhei. Mas, a resposta, talvez, não fosse eu aprecio azeite.
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